Identificação de plantas medicinais descritas na literatura do Ayurveda.

A literatura do Ayurveda apresenta um vasto registro sobre o conhecimento e os usos de plantas medicinais. De acordo com artigo publicado por Thomas e colaboradores (2020), o conhecimento sobre as plantas  das espécies (taxonomia), por isso muitas informações relevantes se perderam, especialmente pela tradição oral de transmissão de conhecimentos e pelo uso de nomes populares das plantas.

Para se ter uma ideia da magnitude do problema que existe na identificação correta das plantas medicinais mencionadas na literatura, segundo estimativa apresentada por Thomas et al. (2020), existem cerca de 1540 espécies de plantas usadas no Ayurveda. Essas 1540 plantas apresentam cerca de 9500 nomes em sânscrito, mencionados na literatura escrita entre o período de 1500 a.C e 1900 d.C.; e dentre esses 9500 nomes em sânscrito, 1689 têm mais do que uma correlação com espécie botânica.

Com base nesses dados, apesar da extensa documentação das propriedades e indicações de usos, cerca de 30% das plantas medicinais mencionadas na literatura clássica do Ayurveda apresentam problemas relacionados a sua identificação botânica, e outros 35% das plantas já tiveram seu conhecimento perdido. Como possíveis causas dessas controvérsias nas identificações das plantas, podemos citar:

1.  Nomes das plantas em sânscrito não revelam sua identificação; 
2.  Existência de muitos textos do Ayurveda, com longa cronologia;
3. Perdas das tradições vivas, adições e deleções de informações ao longo do tempo;
4. Existência de muitos nomes para uma mesma planta; e de um único nome para mais de uma planta; 
5. Ausência de sistema taxonômico anterior ao século 18; 
6. Problemas na interpretação gramatical do sânscrito; 
7. Nomes populares nos diversos idiomas existentes na Índia;
8. Tradição oral de transmissão de conhecimentos; 

Para contornar esses problemas nas identificações, esforços modernos vêm sendo desenvolvidos para documentar adequadamente plantas usadas em tradições médicas na Índia. Com base no Sistema de Classificação Taxonomia e nomenclatura binomial de espécies criado por Linnaeus, a partir do Século 18 trabalhos botânicos começaram a correlacionam nomes em sânscrito e espécies de plantas medicinais. Esses trabalhos acadêmicos envolvem idas a campo, análises etimológicas de nomes de plantas, correlação com a literatura clássica, envolvimento de Vaidyas do Ayurveda, publicação de artigos científicos, análise dos outros sistemas de medicinas tradicionais na Índia, dados coletados em mercados e uso de dados de referências contemporâneas. 

Portanto, estudos modernos conduzidos com foco na identificação correta das espécies de plantas são fundamentais para agregar valor à Matéria-Médica do Ayurveda, tanto por estabelecer quais espécies são de fato as mencionadas na literatura, como por identificar substitutos regionais com os mesmos efeitos biológicos que tenham sido usados ao longo do tempo nos diferentes textos clássicos. 

Referência: V. Thomas, S.N. Venugopalan Nair, D.K. Ved, D. Shankar (2020). Controversial identities of medicinal plants in classical literature of Ayurveda.

Journal of Ayurveda and Integrative Medicine: 11, 565-572. Dispousadas no Ayurveda começou a ser documentado desde o tempo dos Vedas (anos 4000 a 1500 a.C), passando pelo período dos Samhitas – textos clássicos (ano 1500 a.C ao século 7), até o período medieval (séculos 8 ao 15), com as contribuições oriundas dos Vyakhyas, que são as versões dos Samhitas com comentários, e dos Nighantus, que são glossários sobre as plantas que compilam os conhecimentos com base nos Samhitas. 

Somente a partir do século 16 iniciaram-se os primeiros trabalhos científicos baseados em levantamentos etnobotânicos e de práticas das medicinas tradicionais na Índia, envolvendo a produção de ilustrações com descrições morfológicas das plantas. Antes deste período não havia sistema padronizado para a identificação nível em: https://doi.org/10.1016/j.jaim.2019.09.003

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